O discurso do futuro presidente dos EUA

Diário de Notícias, 20070813
João César das Neves

professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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No dia 7 de Janeiro de 2017, Jack Stevens tomou posse como Presidente dos Estados Unidos da América. O discurso que então fez ficou famoso:
"Americanos. Sou a partir de hoje o vosso Presidente. Não sou o primeiro Presidente negro, mulher, muçulmano, judeu, austríaco. Sou apenas eu, sem nada de especial que me distinga. Para lá do vosso voto, na nossa gloriosa democracia.
Nessa democracia anda já muito ocupada uma pequena indústria a tratar de mim. Investiga todos os detalhes da minha vida e, usando os métodos mais avançados da técnica, informará sobre os factos mais estranhos da minha pessoa, verdadeiros ou falsos. Ela acha que há algo de especial que me distingue.
Sobre isso ficai desde já informados que eu admito tudo, confirmo tudo e não comento nada. Sobre a enorme quantidade de material que será publicado, emitido, noticiado e relatado sobre mim, assumo tudo sem nada discutir. Tudo será, até ao fim do mandato, implicitamente aceite e oficialmente irrelevante.

Sabeis americanos que a lei garante imunidade presidencial. Não o faz por simpatia ou respeito pelo cargo que é, como sabeis, o mais detestado e desrespeitado do planeta. A razão está no interesse nacional. Tenho imunidade só porque o país o exige. Porque a minha preocupação está totalmente centrada no desemprego e na injustiça social, na saúde e educação, no crime e terrorismo. Por isso o cargo tem imunidade. No cargo, o menos importante sou eu.
Em vários anos da nossa História os nossos gravíssimos problemas sociais e económicos ficaram esquecidos enquanto o país discutia se o Presidente permitiu ou não escutas ao adversário eleitoral, se tivera ou não relações sexuais com uma rapariga. Qualquer que fosse o interesse particular desses assuntos, o prejuízo pela paralisia do Governo ultrapassou-o esmagadoramente. Ninguém ganhou. Todos perdemos. Esse crime contra o interesse nacional não acontecerá no meu mandato. Esse terrível vício da nossa gloriosa democracia não se repetirá.
Fica portanto combinado que, até daqui a quatro anos, eu confesso todas as tropelias eleitorais que imaginarem, assumo relações com todas as raparigas que nomearem e o mais que inventarem. Depois do mandato, quando terminar a imunidade, conversaremos sobre isso nos tribunais. Aliás, no que toca às raparigas nem então haverá conversas, pois nisso só admito comentários de uma pessoa, com quem conversarei em privado. Ela não me concede imunidades.
Claro que quando acabar o meu mandato já ninguém se interessará, pois estarão todos centrados no meu sucessor. Mas só então trataremos dos meus alegados crimes e tropelias.
Até lá, enquanto for Presidente, debateremos os problemas nacionais, desemprego e desigualdade, saúde, educação, crime e terrorismo. Foi desses temas que vos falei nos meses de campanha. Não de mim. Apresentei-vos ideias, projectos, políticas. Aqueles que não se deram ao trabalho de ver o que prometi talvez o queiram fazer agora, porque é isso que vou aplicar.
Não irei resolver os problemas. Não tornarei a América rica, livre, feliz. Vou simplesmente aplicar o programa que vos apresentei o melhor que conseguir. Estou convencido, de forma humilde mas confiante, de que essas medidas contribuirão para resolver os nossos problemas e para termos uma América mais rica, livre e feliz. Também vós acreditastes, por isso votastes. Sou o vosso Presidente. Mas não vos garanto o sucesso. Se virmos que estou enganado, corrigiremos o erro e procuraremos juntos outro caminho melhor.
Sei que acham que tenho poder absoluto. Tendes família. Sabeis o poder que exerceis sobre os vossos filhos. Os funcionários públicos são pouco menos turbulentos que crianças, e os membros do congresso, empresários, sindicalistas e autarcas muito mais arrogantes e insolentes que adolescentes. Sabeis o que conseguis no controlo de um ou dois dos vossos jovens. Imaginai o sucesso que terei com essa multidão.
Americanos. Tenho um programa e, sobretudo, a vossa confiança. Sou a partir de hoje o vosso Presidente. Deus salve a América."

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