CDS: AINDA MAIS PEQUENO?

DN, 20081218
Maria José Nogueira Pinto
Jurista

A desfiliação de dezenas de militantes do CDS, muitos dos quais foram obreiros do Partido ao longo da sua história, coloca questões interessantes. A primeira tem a ver com a estratégia de redução ao silêncio de todas as vozes discordantes em que, agora, também se inclui Nobre Guedes, compagnon de route de Paulo Portas desde os tempos em que Manuel Monteiro, seguindo à risca os conselhos da empresa inglesa que fez o estudo de relançamento do partido no extertor do cavaquismo, se lançou num populismo simpático, de fácil digestão e, como se viu, tão eficaz na altura, como inócuo depois.A opção por este pequeno mar da Palha à direita só se pode justificar como um instinto de sobrevivência colectivo - e não exclusivamente pessoal, do seu líder - se dermos como certa a suspeita de que o CDS não tem, neste momento, dimensão, massa critica, vitalidade, pensamento e estratégia que o justifiquem como força política representativa no espaço da direita. O partido é, então, o Dr. Paulo Portas, a sua cartola e os coelhos que restam. Melhor que nada, dirão alguns, sobretudo na perspectiva de se poderem constituir nas migalhas que, juntas ao bolo, podem ter uma inesperada utilidade, seja o bolo do PS seja o bolo do PSD. Neste ponto não podemos deixar de nos interrogarmos se haveria alternativa a este modelo personalizado de um chefe e uma corte, modelo exclusivamente assente na capacidade de este esporadicamente cavalgar, com reconhecido talento, as vicissitudes políticas do momento.Mas não deixa de ser verdade que o mero instinto de sobrevivência a que o partido se tem reduzido é curto, e até mesmo inexplicável, num momento em que o espaço da direita parece desertificar-se. A própria situação do PSD poderia ter encorajado uma recomposição interna, uma clarificação doutrinária, o refazer de um distinguo? Ou a identidade ideológica, o núcleo duro de princípios distintivos são irrelevantes neste "jogo de cadeiras" pre-eleitoral? Esta dúvida, só resolvida nas próximas eleições, é pertinente se pensarmos em como estaria, hoje, o CDS se Ribeiro e Castro tivesse podido prosseguir o seu trabalho, interna e externamente, à frente do partido. Por outro lado, este movimento de desfiliação confirma a ideia de que a implosão dos partidos é uma possibilidade, tal como o é uma derrota eleitoral. Ou seja, as clarificações, reajustamentos ou refundações podem acontecer, também, por esta via. Questão que interessa particularmente num momento em que a direita e o centro-direita se distinguem, apenas, por constituir uma não alternativa, criando uma ausência de escolha e, consequentemente, privando de representação o seu eleitorado natural em véspera de sucessivos actos eleitorais. Tudo em nome do equilíbrio interno dos pequenos poderes pessoais e das ameaças latentes de golpes palacianos.O que acontece, entretanto, à esquerda torna tudo isto mais grave, mais sério. A cisão da ponta esquerda do PS significa, quer se queira quer não, o fim do partido tal como sempre o conhecemos. Privado de bandeiras ideológicas, mesmo que hoje caídas em desuso pelo primado da política de mercearia, o PS perde capacidade representativa e, desbotado nas suas cores, perde também muita da sua carga simbólica, à esquerda. A eventual junção desta ponta esquerda a outras forças, como o BE, pode constituir uma surpresa eleitoral num ano em que uma parte significativa dos portugueses se confronta com o gorar de expectativas e esperanças. Um grande contentor de descontentamentos e frustrações a que Alegre dará a chancela política que falta. A ser assim, o PS social-democrata virá à conquista do eleitorado órfão do centro e, também, da direita, em nome das reformas e da estabilidade. Por fim, a dúvida de como evoluirá a crise no primeiro semestre de 2009, por um lado, e de que forma os portugueses manifestarão o seu descontentamento por outro. Usando um voto punitivo ou, simplesmente ficando em casa?

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