Primavera anunciada pelas flores da olaia

António Bagão Félix
Público, 2015.03.24

O equinócio de Março trouxe-nos a Primavera. Tal como o de Setembro nos faz regressar ao Outono. Equinócio que, derivado do latim, [aequus (igual) e nox (noite)] significa noite igual ao dia. Gosto da (passe o quase pleonasmo) equidade equinocial expressa na diária visita solar. Um sinal da mais serena e equilibrada convivência entre as duas faces da vida, a da luz e a da sombra, a da actividade e a do descanso, a da realidade e a do sonho, a de acontecer para fora e a de ser para dentro.
A Primavera é, etimologicamente, o primeiro Verão. O melhor Verão – digo eu — porque suave, risonho, doce. Porque, tal como no amor, não há nenhum como o primeiro.
Falar da Primavera é também um bom pretexto para saudar uma das primeiras árvores que lhe faz jus: a olaia (Cercis siliquastrum, L). Sobretudo através das suas exuberantes e papilionáceas flores, que surgem mesmo antes das folhas. Pouco tempo, é certo, mas o suficiente para regalar a nossa vista. De uma inigualável cor carmim, às vezes mais rosada, outras vezes mais violácea, surgem em cachos e em forma lacrimal, num casamento prodigioso com o tronco castanho que lhe dá berço. É que as flores nascem não apenas nos ramos mais fortes, mas também surgem vigorosas numa curiosa floração caulicular.
A olaia oferece-nos a natureza no seu melhor: exuberância sem ostentação, carácter sem amorfismo, beleza sem artificialismo. E dá-nos o exemplo do que, não raro, é escasso na natureza humana: a individualidade de cada uma na diferença de todas, a conjugação do respeito pela lei natural com a ética do compromisso, a sabedoria enquanto aceitação dos limites naturais sem a amnésia do seu património genético.
Nesta inigualável Lisboa, é pena a natureza não nos proporcionar uma simultânea gestação floral da olaia e do mais tardio jacarandá (Jacaranda mimosifolia, D. Don). Mas imagino o que seria juntar a cor floral da olaia com o azul violáceo das panículas trombetadas do jacarandá. E como seria interessante a oferenda cromática de variações reais ou imaginárias entre o azul e o vermelho: roxo, carmim, lilás, violeta, púrpura, magenta e até índigo!
E se a esta policromia juntarmos o aroma penetrante, relaxante, misterioso e delicadamente adocicado da flor do jasmim (Jasminum officinale L) teremos o trio (quase) perfeito da Primavera.

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