Graças a Deus

Ontem foi um dia de gratidão.
Perante a gratidão agradece-se. Porém, a palavra que usamos todos os dias para agradecer: Obrigado, pareceu-me desadequada para tanto que havia que agradecer.
Dizer “obrigado”, aquilo que nós ensinamos os mais pequenos a dizer e que eles confundem com “se faz favor”, faz parte da boa educação; mas também estabelece uma equidade na relação. Fico obrigado a retribuir. É uma coisa boa, mas é uma coisa da nossa dimensão humana.
Esta retribuição, este “almoço que afinal não é grátis”, é da natureza das relações da física, há leis que as regulam, nada se perde, tudo se transforma, de tal modo universais que também se usam na ecologia e na economia. São nossas conhecidas. Fazem parte do nosso relacionamento quotidiano.
Um colega de faculdade a quem convidei para um almoço convívio de fim de ano para celebrar as colheitas (uma tradição já com pergaminhos no nosso grupo de trabalho), depois de confirmar perguntou o que era preciso levar. Quando lhe respondi que não era preciso levar nada, retorquiu: “afinal, sempre há almoços grátis”. Grátis é da ordem da graça. A gratuidade é o que se recebe sem se merecer.
Quando se saúda a alegre satisfação de outrém perante algum acontecimento bom, dizendo “tu mereces!” julgamos estar a elogiar, mas a mim parece-me que se está antes a apoucar a graça recebida.
“Dai de graça aquilo que recebeste de graça” (Mt 10,8). Muito recebi de graça. Muito acima do meu merecimento.
Por isso, reconhecer a graça é a atitude mais religiosa que conheço porque implica reconhecer o Sujeito da Graça.
É a conclusão que se tira daquele famoso diálogo de um milionário americano com Madre Teresa, quando a vê tratar um velho sem abrigo. “Nem por um milhão de dólares seria capaz de tratar esse velho”. Ao que Madre Teresa respondeu: “Eu também não! Só mesmo por amor”.
A gratuidade é, por isso, uma dimensão que nos ultrapassa. Estabelece uma desproporção que nos faz sentir pequeninos. Como a criatura perante o Criador.
Obrigado, meu Deus! melhor, Graças a Deus!
Pedro Aguiar Pinto

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António