Laudato Si'

FERNANDO TEIXEIRA DOS SANTOS
JN 27.06.2015

De todas as formas de organização económica e social que a Humanidade adotou ao longo da sua história, o capitalismo terá sido aquela que lhe proporcionou um ritmo de progresso mais acentuado ao mesmo tempo que promoveu o reconhecimento e a afirmação do indivíduo e da sua liberdade como valores fundamentais. Não é, porém, isento de falhas nem limitações. Com efeito, a pobreza, a concentração da riqueza e a desigualdade, a exploração e o desrespeito pelos direitos humanos não foram arredados da realidade do dia a dia de muitos milhões de seres humanos em todos os países. Por outro lado, o aumento considerável da produção de bens e serviços nas nossas sociedades, assente na inovação e no progresso tecnológico, intensificou a utilização dos recursos naturais disponíveis, gerando sérios problemas ambientais e sociais.
Na sua recente encíclica - Laudato Si' - o Papa Francisco reflete sobre estes problemas e seus desafios: a poluição e as alterações climáticas, a quantidade e a qualidade da água e o direito básico dos cidadãos a este bem essencial à vida, o desaparecimento de espécies e a perda de biodiversidade, o declínio da qualidade de vida e a rutura social, a desigualdade à escala global e a fraqueza das respostas a estes desafios. Nesta encíclica, o Papa propõe-nos uma visão - ecologia integral - em que as dimensões ambiental, humana e social devem ser contempladas e respeitadas: "Hoje, a análise dos problemas ambientais é inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, e da relação de cada pessoa consigo mesma, que gera um modo específico de se relacionar com os outros e com o meio ambiente." "Não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica torna-se sempre uma abordagem social, que deve integrar questões de justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvirmos tanto o grito da Terra como o grito dos pobres".
Estamos perante uma reflexão consistente e uma crítica sólida e fundamentada ao nosso modelo de desenvolvimento, à cultura consumista e desmesurada do usa e deita fora, à "rapidificação" da vida urbana. É um alerta e uma convocatória a todos, sem exceção. Uma convocatória para partilharmos esta reflexão, mas, acima de tudo, uma convocatória à ação. O grito da Terra e o grito dos pobres não é para ser ouvido somente pelos responsáveis políticos e económicos locais, nacionais e internacionais. É para ser ouvido por cada um de nós. É um apelo a que mudemos os nossos comportamentos de forma a sermos simultaneamente solidários com os outros e com o planeta que nos alberga e nos dá vida.

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