Quando aquele que "dorme" cria humanidade

SOFIA COSTA GUEDES   FACEBOOK.COM  12.06.17

Ca estou eu a falar do meu irmão Fernando, ou antes do que ele tem feito e tanta gente.
É difícil dar notícias concretas dele, porque um dia está aparentemente a dormir e no outro está acordado e consegue conversar connosco. Em todas as situações há sempre algo a aprender com ele e dele.
Então, o que gostava de expressar é quando ontem ele "dormia". 
Estávamos junto dele no Hospital, eu e o filho Fernandinho, que é outro de quem tenho aprendido. Enquanto conversávamos o filho ia dando festas na testa do pai, com uma enorme serenidade e sem se cansar. E assim estivemos umas horas. A certa altura, nessa conversa, longe dos telemóveis, da televisão, o filho disse-me uma coisa que não me esquecerei jamais:
"Tia, estou tranquilo e confiante, não sei que mais o pai vai passar, mas sei que tive e tenho todo este tempo para lhe dizer que o amo, muito! Que agradeço me ter dado mimo em pequeno, ter cuidado de mim. Sinto que até ao seu fim, que naturalmente será antes do meu, continuarei a poder dizer-lhe isso..." e as festinhas na testa, tomavam ainda mais sentido, porque não cansavam o braço de quem as dava, mesmo que através das grades de uma cama de hospital.
Provavelmente este pequeno relato não tem nada de extraordinário para quem não assistiu ou passou por uma situação idêntica, mas a mim deu-me ganas de os agarrar os dois ao colo e enche-los de beijinhos. A mim que todos os dias luto para que a eutanásia nunca seja legalizada em Portugal , encontro real é verdadeiramente a razão desse combate. E a vitória está no amor, na proximidade, nas obras, na presença, no toque, no olhar de mae, que uma situação destas provoca e deve despertar em todos os corações.

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