EUTANÁSIA por G.K.Chesterton



MARIA JOÃO LAGE       14.05.2018

Queremos realmente que o Estado Português dê licença para matar a um grupo de profissionais? 
Não nos orgulhamos de que Portugal tenha sido um dos primeiros países do mundo a proibir esta insensatez?

Nas palavras de G.K. Chesterton, cujo aniversário se celebra a 29 de Maio: 

“Não há nenhuma lei que proíba um homem de morder o seu próprio nariz, a não ser a lei da natureza; há penalizações para o suicídio mas, embora eu próprio não tenha hábitos suicidas, imagino que elas devem ser difíceis de aplicar, já que dariam origem ao paradoxo legal e lógico de matar um homem para o curar do desejo de morrer.
A majestosa mente legisladora do homem não se dedica habitualmente a proibir coisas que ninguém quer fazer. Provavelmente, nunca viriam a existir leis, a não ser as leis contra as coisas que os homens naturalmente e apaixonadamente querem fazer. Os homens proibiram o assassínio, precisamente porque existe um grande número de pessoas para as quais pareceria quase natural e necessário matar. Os homens proibiram o roubo, porque é tão óbvio, e qualquer tolo o vê, que alguns bens estão nas mãos erradas e que estariam muito melhor nas suas próprias mãos. Qualquer tolo percebe isto, qualquer tolo o pode dizer e a lei foi feita porque qualquer tolo o poderia fazer.
Acerca deste assunto, a Mente Moderna passou por duas fases, e não sei qual delas a pior, porque a Mente Moderna é uma mente bastante fraca. No século dezanove, quase todas as pessoas respeitáveis pareciam supor que ninguém podia ser tentado a matar, a roubar ou a cometer adultério, se fosse realmente respeitável. Pensavam que estas tentações só aconteciam a uma tribo remota e curiosa de monstros, chamada a Classe dos Criminosos. Era-nos dito solenemente que um criminoso deve ser um louco, quando, de facto, praticamente nenhum homem saudável passa 48 horas sem a tentação de cometer algum destes crimes. 
Então, de repente, a Mente Moderna confrontou-se com esta evidência e, não sendo uma mente particularmente robusta, caiu no extremo oposto. No momento em que um senhor respeitável se apercebe de que poderá ter a tentação de matar alguém, salta para a conclusão de que esta pessoa de facto deve ser morta. O facto de que a Tia Joana é obviamente um fardo, que o tio Guilherme se está a tornar terrivelmente maçador, que o primo António é um empecilho colocado entre nós e a solução ideal e sensata para a família, começa a parecer, cada vez mais, uma razão real para nos livrarmos deles. É por isto que, no meu próprio país, alguns propõem aquilo que é chamado de Eutanásia.
Neste momento, a Eutanásia é apenas uma proposta para matar aqueles que são um incómodo para si próprios, mas brevemente será aplicada àqueles que são um incómodo para os outros: ao se aplicar, por hipótese, a um doente terminal ou parcialmente paralisado, a decisão será tomada precisamente por esses outros.
Não será agora a altura de reafirmarmos o princípio, conhecido dos homens primitivos, de que as coisas que desejamos fazer são as coisas nas quais devemos estar condicionados? E que, por sermos todos criminosos, o crime deve ser desencorajado?”

GK Chesterton, in The American Review, 1937

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